Adolescência...
Adolescência...

   Era um dia como qualquer outro. Cadernos, capas rabiscadas e a lembrança simples, talvez uma borracha nunca apagará. É, a casa dela fica à duas quadras daqui. Bem distante deste paraíso pequeno, rodeados de velhas casas medonhas. Naquele perfeito espaço de tempo em que sua mão me tocou, eu já sabia, não dava mais pra fugir, era o tempo.

   Foi numa terça-feira chuvosa, fim de tarde, eu lia sem parar aquele romance detestável, bem no cantinho da sala, longe de tudo e de todos, uma pequena formiga no mundo das abelhas. Os meus colegas de classe eram bolinhas de papéis atiradas em anônimatos, ou aviõesinhos feito com colas tenaz.

    Não. Eu não queria ficar de pé e muito menos sair do meu lugar, mas a professora não parecia vê o que estava acontecendo, duas garotas atracavam-se dentro da sala, o ódio chovia nos olhos de uma delas. Meu bom senso foi racional, corri em direção à mesa da professora, até que em uma das cadeiras enfilheiradas eu parei; pior, tropecei e cair, não tive tempo de dizer uma só palavra, meus óculos sim, diziam muito, partiram-se no meio e a nuvem de gargalhadas trepidavam milhões de ferruadas em minha mente, não havia mais briga, e nem professora, só um enxame de abelhas e uma minúscula formiga desengonçada.

(A.A.) june, 2010.